A disrupção dói

Por: Brant Cooper

A globalização, aliada aos mercados on-line, resultou na deslocalização internacional e na comoditização de negócios e profissões que proporcionavam altas margens de lucro. A desintermediação revolucionou vários setores, colocando as pessoas criativas em contato direto com os consumidores.

Cada vez mais, músicos vendem diretamente aos seus fãs, escritores a seus leitores, produtores de filmes a expectadores, fabricantes de produtos a consumidores via produtos físicos que podem ser baixados da Internet! A intermediação também é transformadora. Os grandes estúdios, por exemplo, dominaram seus respectivos setores por meio da curadoria dos produtores de conteúdo e da propriedade dos canais de distribuição. A Internet trouxe democracia a esses empreendimentos, mas a democratização aumenta a concorrência e joga para baixo o preço do conteúdo, como o que acontece nos mercados de crowdsourcing baseados na Internet. A Internet dá, e a Internet toma.

É inútil tentar prever o futuro, e ainda assim estamos na primeira fila pra ver. Toda essa conversa sobre o rumo que deveríamos estar tomando poderia ser mais persuasiva se soubéssemos onde estamos neste exato momento. Dito isso, nosso cérebro funciona melhor quando temos algum parâmetro de comparação. Uma linha de base ou uma hipótese nos permite criar algum tipo de experimento para determinar em que medida a realidade se compara à nossa estimativa. Sem essa linha de base, aumenta a nossa probabilidade de moldar nossa experiência às crenças que tínhamos antes da tal experiência. Não importa o tamanho da tampa que imaginamos poder encaixar no buraco.

Como se não bastasse o fato de nós, seres humanos, sermos programados para sofrer a interferência da subjetividade nos experimentos, o fato de nossa capacidade de previsão piorar quanto maior for a nossa expertise em determinada área é ainda mais desconcertante.18 Parece estranho que isso venha à luz, considerando-se que a nossa confiança em especialistas nunca foi tão grande quanto é hoje.

Nosso mundo é tão complicado que terceirizamos as nossas narrativas. Parecemos não nos importar com a precisão das previsões, desde que tenhamos explicações para coisas que estão além do nosso controle que possamos armazená-las confortavelmente em algum lugar remoto da nossa mente. É o que liberta nossa capacidade para lidar com o dia a dia. Verdade seja dita, os especialistas estão errados há muito tempo e, com isso, referimo-nos a todos os especialistas, inclusive médicos, advogados, cientistas etc., isso sem falar nos economistas, psicólogos e sociólogos pseudocientistas, e menos ainda naqueles que se autointitulam sábios, especialistas em determinados assuntos, consultores e participantes de laboratórios de ideias. Erramos antes de acertar.

A natureza do aprendizado em si pressupõe que assim seja. Honestamente, não somos mais inteligentes hoje do que éramos. Temos apenas mais conhecimento. Os personagens históricos eram tão evoluídos quanto nós somos. Como se disse na esquete de noticiário do programa Saturday Night Live, certa vez: “Notícia de última hora: ratinhos brancos causam câncer.” Quanto antes abrirmos mão da noção de que podemos, em primeiro lugar, descrever o passado com precisão; em segundo, prever o futuro; e em terceiro, produzi-lo, melhor para nós.

Parece razoável que nós, como seres humanos, tenhamos uma predisposição evolutiva a criar narrativas que explicam o passado e preveem o futuro. Se os nossos filtros sensoriais normais fossem eliminados, se pudéssemos ter o faro de um cão, a acuidade visual de uma águia, a audição de um veado, precisaríamos ter um cérebro maior para processar os dados, e certamente teríamos uma aparência estranha. As histórias que contamos, assim como os nossos filtros, criam limites para nossos pensamentos.

É mais fácil entender o mundo se encaixarmos os dados no modelo existente, em vez de modificar o modelo para que os dados se encaixem nele. Somos máquinas identificadoras de padrões. Ao andar pela floresta, em um dado momento você avista um objeto escuro na sombra, pelo canto do olho, e exclama: “É um urso!” O olhar mais atento, porém, revela uma pedra grande. Em termos evolutivos, é melhor um sinal de alerta precoce do que um erro 404: “O link não foi encontrado.”

Sabe aquela brincadeira do telefone sem fio, na qual você sussurra uma história no ouvido da pessoa que está ao seu lado, que a transmite a pessoa ao lado dela, e assim por diante, até voltar a você e, no final, a história mal se assemelha à inicial? Pois bem, a memória é assim; a diferença é que você não está em uma roda de amigos, está sozinho. De que outra maneira seria possível explicar a diferença entre a sua memória e as lembranças da pessoa com quem você compartilhou aquela experiência romântica? “Ah, sim, eu lembro muito bem.” A história não é escrita pelos vencedores; é escrita pelos sobreviventes. Os mortos não têm voz. A história contada pelos vencidos, embora contada por menos gente, tem a mesma probabilidade de ser uma verdade objetiva que a história contada pelos vencedores. O que é mito para uns, certamente é religião para outros. Embora as pesquisas científicas nos levem inexoravelmente a uma direção, se não lermos as pesquisas, principalmente se não as realizarmos, teremos diante de nós uma dúvida enorme quanto à história em que resolvemos acreditar.

Escolhemos o cientista ou o pregador? Os “especialistas” teorizam sobre os motivos do rápido sucesso do YouTube. Pioneirismo! Ou sobre as razões pelas quais o Facebook superou o MySpace e o Friendster. Humm, seguidor rápido? Quando mais pseudo for a ciência, mais baseados na personalidade serão os resultados. Nesse processo, reformula-se a teoria para se ajustar às atuais circunstâncias ou reformulam-se os resultados para se ajustarem à teoria, manipulando variáveis. Por isso os analistas da TV colocam a personalidade em primeiro lugar. É preciso contar uma históriaconvincente. O problema é quando a história é falsa ou quando se tiram dela lições inapropriadas, algo comum entre visionários e empreendedores...

Dito tudo isso, aqui está a nossa análise do passado e previsão do futuro. Ao longo da história, a inovação tecnológica leva a mudanças disruptivas, da transformação da economia agrícola em economia industrial e, mais uma vez, em economia pós-industrial. Este tópico já foi tão amplamente analisado e discutido, que não repetiremos aqui o mesmo discurso. É possível identificar padrões em meio às mudanças. Os padrões não preveem o futuro, mas ajudam a descrever a mudança e ajudam a entender os motivos, talvez, além de servir como parâmetros básicos com relação aos quais podemos avaliar as mudanças atuais. Se não servir para mais nada, pelo menos será um divertido experimento teórico.

A transformação provocada pelo computador e as revolucionárias aplicações que surgiram em sua esteira ao longo dos últimos 50 anos, mais ou menos, têm sido descritas em termos da Lei de Moore. Diz a Lei de Moore que o número de transistoresque podem ser colocados, a baixo custo, em um circuito integrado dobra aproximadamente a cada dois anos. Os detalhes específicos não importam, pois a lei foi extrapolada de modo a descrever praticamente qualquer coisa relacionada ao computador que demonstre melhor desempenho, em tamanhos menores, a um custo mínimo. Ah, sim, e o desempenho também precisa melhorar exponencialmente. Em outras palavras, se você estiver empilhando moedas de um centavo e dobrar o número de centavos a cada pilha subsequente, a vigésima primeira pilha terá mais de 1 milhão de centavos! O fato de hoje termos um computador no celular pode ser diretamente atribuído à Lei de Moore. Os computadores pessoais, a Internet e a tecnologia móvel representam enormes inovações técnicas. Dentro delas, há milhares de avanços tecnológicos que não apenas proporcionam melhoria incremental contínua da tecnologia em si como também capacitam novas tecnologias e novas aplicações, preparando assim o palco para a próxima onda de transformação. Cada ciclo prepara o alicerce para a próxima transformação.

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